Bem vindos ao mundo existencialista

Espero compartilhar com vocês a riqueza do mundo existencialista!

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

O atendimento infantil na ótica fenomenológico-existencial

Este livro mostra a compreensão do atendimento infantil a partir do enfoque fenomenológico-existencial. É a primeira obra que reúne trabalhos envolvendo crianças dentro desse enfoque e, seguramente, abrirá caminhos para que novas publicações venham na sequência. O texto, dedicado exclusivamente ao universo infantil, atende a estudiosos e profissionais que há muito se identificam com essa abordagem fenomenológico-existencial. O objetivo do meu capítulo (7) intitulado "Os diversos caminhos em psicoterapia  infantil" é refletir sobre a psicoterapia infantil de base fenomenológico-existencial e os caminhos que cada atendimento pode nos possibilitar. Assim, abordo os possíveis caminhos no atendimentos aos pais; a importância das visitas escolar e domiciliar; os testes psicológicos e os possíveis caminhos no atendimento à criança.   Vanessa Maichin 

sábado, 14 de fevereiro de 2015

Aulas de Yoga

           YOGA É VITAL

Aulas: 2as feiras 18h – 19h – 20h Espaço Terapêutico
Rua Teixeira da Silva, 329 - 3° andar – Paraíso (150m metrô brigadeiro)
Fernando Vital
Educador Físico CREFSP 2507G
Professor de Hatha Yoga


Contato: (11)996690416 (Vivo)
              (11)953929726 (Tim)
                             Email: fervital@hotmail.com                  



Agende uma aula experimental

terça-feira, 27 de maio de 2014

CURSO FENO

Seja autor de sua própria vida!!!!

CURSO FENO - Módulo II
"A prática clínica sob o enfoque fenomenológico-existencial"

OBJETIVO DO CURSO:
Oferecer subsídios teóricos e filosóficos a partir dos pressupostos daseinsanalíticos para a compreensão dos temas existenciais na prática clínica.

OBJETIVO ESPECÍFICO:
Primeira parte da aula: explanação teórica sobre os temas existenciais e a compreensão da prática clínica.
Segunda parte da aula: reflexão, por parte dos alunos, a respeito dos temas existenciais abordados. Essa reflexão tem como objetivo propiciar um espaço para que o aluno compreenda de forma mais própria os temas existenciais vivenciados em suas vidas.


TEMÁTICAS:
- ser-no-mundo e ser-para-morte - angústia e cuidado
- autenticidade / inautenticidade - espacialidade e temporalidade
- compreensão e disposição - preocupação e decadência
- linguagem e discurso - cotidianidade e liberdade


PÚBLICO-ALVO:
Graduandos, graduados em psicologia,estudantes/profissionais de áreas afins e qualquer pessoa interessada em refletir sobre a existência

CERTIFICADOS:
Os certificados de conclusão serão entregues aos alunos que freqüentarem, no mínimo,
75% das aulas dadas.

DATA e HORÁRIO: 
Sábado das 10h00 às 12h00
Início: AGOSTO DE 2018 Término: DEZEMBRO DE 2018

INVESTIMENTO:
6 parcelas de R$ 200,00 ( 6 cheques pré-datados)

LOCAL:
Rua TEIXEIRA DA SILVA, 329 - PARAÍSO (Próximo ao metrô BRIGADEIRO)
INFORMAÇÕES:
(011) 995685158 ou pelo e-mail: vanessamaichin@gmail.com

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Resgatando a mulher selvagem

"Resgatando a mulher              selvagem" 


 Com base na obra “Mulheres correm com os lobos”  e através de contos e histórias de vários povos, a psicóloga Vanessa Maichin conduz um grupo destinado a mulheres que almejam resgatar sua essência feminina e selvagem. Partindo da idéia de que as mulheres têm uma natureza selvagem, criativa e profunda, esquecida por séculos de condicionamento social e repressão, o grupo visa trazer à tona a essência da feminilidade saudável, vigorosa e bela, que habita no íntimo de todas nós. E através desse processo, propiciar o autoconhecimento, estimular a auto-estima, e alcançar o que o existencialismo chama de autenticidade. “A compreensão dessa natureza da Mulher Selvagem não é uma religião, mas uma prática. Trata-se de uma psicologia em seu sentido mais verdadeiro, um conhecimento da alma. Sem ela, as mulheres não têm ouvidos para ouvir o discurso da sua alma ou para registrar a melodia de seus próprios ritmos interiores. Sem ela, a visão íntima das mulheres é impedida pela sombra de uma mão, e grande parte de seus dias é passada num tédio paralisante ou então em pensamentos ilusórios. Sem, ela as mulheres perdem a segurança do apoio da sua alma. Sem ela, elas se esquecem do motivo pelo qual estão aqui; agarram-se às coisas quando seria melhor afastarem-se delas. Sem ela, elas exigem demais, de menos ou nada. Sem ela, elas se calam quando de fato estão ardendo. A Mulher Selvagem é um instrumento regulador, seu coração, da mesma forma que o coração humano regula o corpo físico.” (Estés, C. P. 1994. p.23) 

Horários
aguarde nova data

Valor: 
290,00 à vista, ou
2 cheques de R$ 150,00 

Inscrição: R$ 30,00 A inscrição deverá ser realizada através de depósito bancário. Banco do Brasil. Agência: 1191-6 Conta Corrente: 14628-5 em nome de Vanessa Maichin. Para confirmar a inscrição, é necessário enviar um e-mail para vanessamaichin@gmail.com contendo nome, telefone, e-mail e comprovante do depósito. 

Local do encontro: Rua Teixeira da Silva, 329 - cj.31 - próximo à Av. Paulista - metrô Brigadeiro.

Maiores informações: Tel. 011/995685158 
E-mail vanessamaichin@gmail.com           

Depoimento das Mulhere Lobas de grupos anteriores:
“Querido grupo, vou me ausentar por um tempo, talvez meses, anos. Então vou aproveitar, neste último encontro, para falar de mim, porque agora tenho voz. Grupo, quando nos encontramos, haaaah pasmem... eu já tinha dor, eu já tinha angústia, eu já tinha falta... Ahh grupo, vou embora feliz porque saio daqui com a mesma dor que iniciei os encontros, mas agora sei o que fazer com ela. Vou embora com saudade; saudade não é falta, saudade é nossa alma dizendo pra onde quer voltar. Vou continuar a minha vida e não vou mais me ausentar (de mim)...” Loba D.L.G.L 

“Não é fácil percorrer os caminhos que nos levam para dentro de nós mesmos, mas também é certo que esta dificuldade é a força que nos transforma. Resgatar a loba me deu a oportunidade única de revisitar conceitos e pré-conceitos, de exercitar esta capacidade tão feminina que é a minha intuição, que se bem não estava tão adormecida, apenas a tinha um pouco desacreditada dentro de mim. Obrigada meninas por este momento transformador” Loba H.C. 

“Nestes tempos de reflexão e contato com o meu eu, pude perceber o quanto a troca, o falar, o pensar nos remete ao conforto e aos nossos sentimentos. Ser loba, ser autêntica, ser brava e até desejar o mal de alguém, querer justiça, isso é o natural e o melhor do humano. Autenticidade é algo que não tem preço e algo difícil no meio da sociedade, mas é a melhor recompensa para quem vive e a experimenta. Quando iniciei no grupo já sabia e imaginava que seria importante na minha vida porque tinha a necessidade de me conhecer cada vez mais e de ser eu mesma e não me importar por ser julgada por isso. Aprendi que ficar brava, nervosa, dizer não, ter raiva não é ser má, chorar não é ser fraca, mas é respeitar a si própria. Foi maravilhoso estes momentos e que já deixam saudades pela história que construímos e sei que nunca acabará. Que eu possa ter mais momentos como esses que tive aqui neste grupo. Com muita intensidade, aprendizado e acima de tudo A MULHER LOBA”. Loba A.B. 

“Mergulho em minha alma... encontro com minhas personas... separação do que é meu e do que é do outro... lidar com a angústia (com sentimentos) que não é minha... identificação, reencontro e aceitação do feminino dentro de mim... fortalecimento do meu eu... acolhimento e compreensão por parte das colegas e facilitadoras... aceitação de minha fragilidade... exercício de dizer não e colocar limites... fluidez e leveza...” Loba A.C.A. 

“Uma possibilidade de encontro... resgate de memórias... possibilidade de ver diferente aquilo que parecia mesmice... uma sala com muitos espelhos (as outras lobas)... caos e ordem... gratidão eu tenho por todas as lobas lindas e maravilhosas que pude encontrar nessa experiência...” Loba S.M.G.

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

O Caminho: uma compreensão fenomenológica-existencial


Tenho uma tarefa.
Posterguei um pouco para realizá-la, não porque estava com preguiça, nem tão pouco porque não queria fazê-la, pelo contrário, só não sabia direito como.
Mas peguei ‘uma’certa estrada e sinto que nela devo seguir; escolho seguir.
Ei-la, a tarefa e a estrada...
Assisti ao filme The way – O caminho –, meu próximo passo é descrever o que compreendi, o que entendi, enfim, analisar o filme. Tarefa nada fácil para um iminente psicólogo, que pouco gosta de analisar coisas... Em todo caso, aí vamos.
Certo homem, assim como muitos outros - talvez assim como eu - médico do olhos[1], erigido pelo positivismo, antiga escola das exatidões, perde seu único filho, que prestes a seguir uma vida muito similar a de seu pai, abandona seu doutorado perto do fim e resolve tomar seu próprio rumo; o rumo de sua própria vida, e viajar pelo mundo.
O pai e o filho aparentam possuir um relacionamento truncado, pelo menos a partir desse momento de desistência da carreira que já se estendia... O pai chega a se referir às ações do filho, por exemplo, a de não possuir um celular, como algo errado, estranho. Diz ele que seu filho vive em um mundo próprio, mostrando certa insatisfação e discordância com as escolhas feitas por ele.
Em determinado momento, recebe a tumbal ligação de um determinado sujeito na França, dizendo que seu filho havia morrido em um trágico acidente no primeiro dia de viagem do Caminho de Santiago de Compostela.
O pai, que nem sabia onde ficava o tal caminho, parte ao encontro do filho, com a determinada mórbida tarefa de trazer seu corpo de volta para casa. Entretanto, o pai se perde em sua dor, perde seu chão, perde o caminho.
Crema o corpo e parte em busca de finalizar a tarefa interrompida ao primeiro dia. Junta as cinzas e coloca-as na mochila de seu antigo dono, decidido a percorrer o caminho, para poder realizar a tarefa que seu filho, seu acompanhante, dono da mochila e causa única das cinzas, havia começado.
Assim, o exato pai, certo de que haveria de cumprir a tarefa em memória de seu único filho, mergulha em uma jornada própria e segue até Compostela e mais além, deixando em cada paragem, em cada fotografia, em cada lembrança, punhados das cinzas de causa única.
Encontra pessoas, tão ou mais perdidas que ele; tão ou mais sofridas que ele. Mesmo assim, partem juntas para o mesmo propósito: terminar o caminho, chegar ao final dele.
Durante toda a trajetória, todos que passam lhes desejamBom caminho, e eles desejam de volta.
O falastrão barrigudo, a fumante inveterada e o travado escritor, formam junto do pai de um só filho, em luto e sem caminho, o quarteto improvável que nos narra a história do encotrar-se a si mesmo, percorrendo o longo caminho que os pés reclamam.
Depois de curvas, de estalagens estrambólicas, de camas gostosas, de camas péssimas, de peripécias, de dores, de sorrisos, de choro, de brigas, de socos... É quase palpável o desvelamento que cada um a sua maneira vai vivendo, vai se permitindo viver.
O pai, de cara fechada quase todo o trajeto, vai começando a sorrir e a entender que o caminho do filho não era assim tão ruim, tão estranho... A cada carimbo do passaporte, o iminente fim da jornada mostrava-se certo. Pelo menos os aproximados 800 quilômetros, distância metrada do caminho.
Porém, como em muitas vezes, como em muitos casos, diferente do mundo externo, o mundo de dentro não apresenta contas, distâncias, metragens, quilômetros certos. Então o pai, junto do filho e dos viajantes, metaforicamente, começa a entrar em contato com o que de mais especial possui sua profissão: Ele começa a enxergar a alma.
Caído em seu próprio fojo, o exato perde-se na inexatidão; vislumbra a si próprio e parece não gostar do que vê... Mas como vocês sabem, dizem que o caminho opera milagres, só não sei dizer até agora qual deles: O caminho de Santiago de Compostela ou o caminho dos viajantes, que entendi ser o caminho dos seres, o caminho de si; apesar de, também ter podido entender, que o primeiro é o instrumento para o segundo acontecer, e o segundo o meio que conhecemos para o primeiro haver.
Afinal não há um caminho, somos o caminho. E enquanto sendo, somos constituintes de nosso caminho, tal qual um cartógrafo que desenha as peculiaridades dos terrenos pelos quais passa.
Ele os sente, fecha os olhos, respira fundo e desenha não só o terreno, os acidentes do terreno - pois este não existe apriori, fora da gente, fora da sensação da alma - mas, sim, o que sentiu ao passar pelos caminhos que percorreu, pelos seus próprios caminhos... ninguém faz o caminho senão por si mesmo!
O caminho foi o meio existente para o processo de elaboração da dor de nossos companheiros de viagem, foi constituído e constituinte. A dor foi – e é -a companheira inseparável de todos os momentos, é aquilo, afinal, que temos de mais próprio. A crise, tal qual no ideograma japonês, foi oportunidade, e eles foram protagonistas dessa estória.
Entendi junto deles, do caminho e dos peregrinos do caminho, que se não pudermos pensar nesse processo, que são eles e deles próprios, a viagem pouco importará, pois pouco importarão os viajantes, pouco importará o caminho, ele não será deles, ele não será o nosso, ele não será de ninguém... E o ninguém é o esquecido, o ex-que-cente, que não pode mais sentir por não mais existir; constituir.
O caminho impróprio não permitiu nossos aventureiros de chegarem às encruzilhadas que desalojam e que não são senão, as oportunidades de escolha, de projeto, de destino. Oportunidade de seguir por si e pelo caminho deles próprios – pelo nosso caminho, por nós - após terem podido deliberar com seus próprios demônios, com seus próprios anjos, consigo-mesmos; conosco.
O pai chega ao fim dizendo que veio para uma tarefa, aquela de levar de volta o corpo, entretanto, olha para a lembrança vívida de seu filho e diz que voltará com nada. Seu filho lhe olha de volta e enxerga, mais uma vez, o que o pai não ainda podia, e diz que ele voltara, sim, com alguma coisa.
A estrada chega ao fim, mais o pai não chega ao fim da estrada, e continua, assim como eu tentei fazer junto dele e de vocês, caros leitores... Sinto agora que já pude compreender qual dos caminhos percorrer para operar os milagres que procuro.
Sinto, também, que a dúvida que lhes apresentei ao começo de meu relato, em como fazer o que aqui fiz, está sendo o próprio caminho que escolhi para estar nesse momento co-migo, pois, comecei a entender que buscamos de maneira geral, as verdades para nos assegurarmos do caminho a percorrer; eu busco a verdade para o asseguramento, tal qual o pai, tal qual o barrigudo, tal qual a inveterada, tal qual o travado, tal qual o filho, todos nós, geralmente, as buscamos fora... Ou mesmo dentro.
Mas elas, as verdades, são afirmações limitadas, ignorantes, pois ao afirmarmos, desafirmamos algo, assim, não há possibilidade de elaborarmos uma afirmação que contemple todas as verdades.
São ignorantes, porque, ao não abarcar todas as possibilidades, as afirmações ignoram; nós ignoramos, somos ignorados.O caminho continua, desta maneira, cartografado, vivido, hsitoricizado, herdado, caminhado...
Lá?
Não, lá não! Aqui!
Poderíamos tentar co-viver com nossas compreensões, lembrando que geraremos afirmações através delas; poderíamos tentar co-viver com as compreensões, dúvidas e reflexões do caminho que já percorremos, que estamos percorrendo, que aspiramos percorrer.Deixemosas afirmações, necessárias e inexoráveis ao ser, para os momentos de pouca inspiração. Pelo menos assim tentemos, assim eu tento, assim tentei.
Por fim, a dúvida, da qual já me alonguei em dizer, seja do lugar geográfico do Caminho; seja a dúvida da morte; do por que o filho ser do jeito que era; do que fazer agora; de qual caminho percorrer. Seja por duvidar de si ao achar ter visto o amado filho, mesmo após sua morte; seja sobre continuar ou não continuar o percurso, seja sobre chegar e não saber para onde ir depois; seja ao começar a compreender que só terminamos um caminho quando retornamos a nós-mesmos.
Essa dúvida – essas dúvidas - foi corporificada e materializada pela pergunta que o dono do último carimbo fez: Qual o motivo de terem feito a peregrinação, a viagem, o caminho?
Não ter uma resposta imediata, compreendi, tratou-se do singular momento de re-encontro entre o pai e ele mesmo, que pôde, então, aceitar o filho. Restava nesse momento da narrativa, continuar o caminho com suas escolhas.
A dúvida, àquela velha senhora que tanto bem-tratei nesse relato, moveu os peregrinos. A pergunta os trouxe de volta. Uma era interna, a outra de fora, mas as duas falavam sobre a mesma coisa.
O pai, que já podia responder às suas próprias perguntas, parou de duvidar de si ao fim do trajeto... Não pela certeza, mas, também, por abraçar as dúvidas. Afinal, ‘foi caminhando que se fez o caminho’[2].
A pergunta e a dúvida nos alucinam; a certeza e a afirmação nos ancoram. Ambas representam as tonalidades afetivas de nosso cuidar de nós mesmos, de nosso cuidado com a vida, de nosso seguir em frente com ela.
Assim cartografemos, sintamos, continuemos,afirmemos; existiremos... Se não no dia a dia, pelo menos no dia a dia de nosso trabalho, da profissão de psicólogos, momento em que podemos nos dar o privilegiado beneficio da dúvida, o momento da incerteza, a nova compreensão e a bem vinda companheira surpresa, principalmente para o outro, que sabe de si e talvez só precise de um guia para aventurar os caminhos de sua própria estrada.
Aos pais e aos filhos. Aos filhos dos filhos, aos filhos do pai, aos pais dos pais... Àqueles pais que possuem um relacionamento com seus filhos, similar ao descrito e narrado pelo filme, e, também, aos filhos que possuem parecido relacionamento com seus pais.
Assim como eu...
Talvez assim como você...

Àqueles que tão pouco são psicólogos, mas são – estão sendo – o que podem ser, o que escolhem ser. Profissionais da Saúde ou não.
A nós, a vocês, a eles... A qualquer um que já se defrontou consigo mesmo em uma encruzilhada; e, também, com uma encruzilhada em sua estrada:

Bom caminho!

Texto escrito por Ararê Dias Calia;
Terapeuta Reikiano, tel: (11) 98183-0139;   
E-mail: arare.d.calia@gmail.com
Formando em psicologia na turma de 2013.



[1] As palavras em itálico estão assim dispostas por representarem falas diretas do filme.
[2] Referência à música dos Titãs: Enquanto Houver Sol.

domingo, 16 de dezembro de 2012

Filme: Na Natureza Selvagem: Uma reflexão existencial

         
 Podemos viver uma vida sem as amarras das contradições e ambivalências do cotidiano pós-moderno? É com essa questão que escolho o filme Into the Wild (Na Natureza Selvagem, EUA, 2007) como pano de fundo para essa reflexão. Essa obra cinematográfica retrata a história verídica de Christopher McCandless, 22 anos, recém-formado que ao terminar a faculdade, doa todo o seu dinheiro a uma instituição de caridade, muda de identidade e parte em busca de uma experiência genuína que transcendesse o materialismo do quotidiano. Abandona, assim, a próspera casa paterna sem que ninguém saiba e se lança à estrada. Perambula por uma boa parte da América (chegando mesmo ao México) à boleia, a pé, ou até de canoa, arranjando empregos temporários sempre que o dinheiro faltasse pois, Chris em determinado momento acaba por abandonar o seu carro e queimar todo o dinheiro que levava consigo para se sentir mais livre, mas nunca se fixando muito tempo no mesmo local. Desconfiado das relações humanas e influenciado pelas suas leituras, que incluíam Tolstoi e Thoreau, ansiava por chegar ao Alasca, onde poderia estar longe do homem e em comunhão com a natureza selvagem e pura. Chris nos fala do homem inserido no mundo, mas não se aproxima do homem comum que vive por viver sem se questionar sobre o seu lugar, seus sentimentos e valores e tão pouco aceita como verdade as estruturas de vida a que foi submetido até então. Seu olhar é crítico e triste quando voltado para as instâncias de sua vida, amigos, faculdade e, principalmente, família, mas se enche de esperança quando se abre a possibilidade de uma vida mais autêntica e ao projeto que dá ânimo ao seu existir. E assim Chris dá adeus a um ter que ser a que todos somos impostos de alguma maneira ao longo da vida dando amplitude a voz que ecoa dentro de seu ser. No reconhecimento de um sentimento de não pertencimento se lança em sua jornada. Sem planos e estratégias sai em busca do conhecimento do mundo e das facticidades que lhes são pertinentes e irrecorríveis. Ao longo do caminho descobre novas relações com pessoas talvez nunca dante imaginadas, suscitando sentimentos ímpares e profundos, mas tão efêmeros quanto às lembranças de sua vida pregressa. Embora tenha demonstrado certo receio aos contatos sociais cada um de seus encontros se mostraram momentos extraordinários de como a existência não existe somente em si, mas com o outro que nos ajuda a dar sentido às escolhas que fazemos, refutando o significado aos sentimentos anteriormente atribuídos em relações medíocres e/ou reforçando a crença de contextos em que crescemos e nos desenvolvemos. Mas após cada contato, cada emoção o ermitão a caverna volta para alimentar o dragão personificado em sua voz interior, seu projeto tomado de sentido, seus sonhos mais verdadeiros. Ao longo de seu trajeto se ocupa das coisas, objetos da esfera mundana, mas apropriado, dotado do significado e importância daquilo para seu projeto. Seu desejo. Isso se mostra quando precisa arrumar alguns empregos como meio de subsistência, mas principalmente com o intuito de se preparar para chegar ao seu destino final. Sua obra. À sua medida. Sua trajetória remete a vida tal como ela é, com todas as nuances de crescimento e desenvolvimento pelo qual o protagonista passou, mas sobretudo reflete a maturidade com que encarou sua vida e suas escolhas, principalmente a coragem de assumir a sua verdade e a renúncia a segurança da impropriedade do mundo. Seu comprometimento é a certeza da coragem, visto que pouquíssimas certezas tinha pela frente, mas precisava fazê-las, concretizá-las e só então saber o peso do que assumiu. E com esse sentimento, frente as adversidades que encontrou, se deparou com o imprevisível, com a facticidade de que nossas escolhas não garantem certezas. No íntimo do estado pleno que almejou se viu diante da morte, do fim e certa nostalgia se mostrou em seus instantes finais, diante das lembranças de uma família idealizada, mas já era tarde suas escolhas o levaram a um estado e condição do qual não poderia mais voltar. Fez-se a morte do corpo, aquela prometida e fatídica, mas tão verdadeira, a morte que vale a pena, não apenas a morte que o tempo todo sempre se mostrou a partir do momento em que veio ao mundo, mas uma morte cuidada através da existência vivenciada pelo viés da autenticidade e da responsabilidade com que foi acalentada. A história de Chris parece utópica, distante, recheada de clichês que o mundo dos rebanhos poderia adjetivar, mas sobretudo é uma história do existir, do estar com e do estar consigo, muitos são os temais existenciais que permeiam esse Dasein e nos leva o tempo todo a refletir sobre o sentido da vida. Sobre a questão inicial, sim é possível viver sem as amarras do mundo e suas intercorrelações, mas sem a pressão do laço vem a liberdade que cobra o preço do comprometimento com o cuidado da existência e a coragem de atravessar a fronteira onde poucos habitam.
Análise realizada pelo aluno Jefferson de Melo no "curso de feno". 
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